...melhor começarmos a nos dar motivos.
Tendo começado com essa reflexão digna de Lispector, lá vamos nós falar sobre assuntos pesados. Consegui parar o blog com uma só postagem. Eu sei! Eu sempre me supero!
Mas sou bem influenciada pelo meu humor. No dia seguinte a postagem, se não me engano, aconteceu uma coisa tristezinha: bombei na prova de direção mais uma vezinha (não sei a razão de tantos diminuitivos, mas prossigamos). É algo que vem me estressando muito por conta que a faculdade toma todo o meu tempo, além do próprio esforço que ela requer ─ ter que prosseguir com o processo de habilitação é algo que toma conta da agenda também. Além das duas falhas me desestabilizarem um pouco. E é assim que eu lido com a tristeza: olho profundamente para os olhos dela e ficando encarando durante um bom tempo. Enquanto isso a vida dá uma passada. E nisso vou me recuperando, nisso ela diminuí, nisso ela não me incomoda tanto. Infelizmente ainda não encontrei uma forma de ser proativa enquanto estou triste. Me desculpe, mundo capitalista. O seu tempo ainda me custa muito me adequar.
Pois bem, a tristeza passou, o desânimo não. Confesso que não é algo opcional, pois vou ter que fazer a prova mais uma vez, afinal, sobre todos os motivos, a lógica capitalista se coloca nos holofotes: uma boa quantia de dinheiro se foi nesse processo. Dinheiro dos meus pais, amados pais, que me sustentam nessa vida de faculdade integral. Isso me pressiona um tanto. Além do mais, tem toda a peripécia de realmente precisar de outro meio de transporte além do ônibus.
Sejamos sinceros: ônibus é uma merda. Mas confesso que eu não odeio a experiência por completo.
Para ser sincera, ônibus me dá muita autonomia. Aonde meus pais não me levam, o passe escolar leva. O único problema é: ônibus tem horários. Horários que não seguem sua agenda, mas um horário próprio que consegue sempre ferrar com todo mundo. Além do mais, andar de ônibus produz em você um senso de humildade. Tá certo que te passa umas raivas, para alguns acontece uns barracos e nem vamos falar sobre assaltos...porém, você já conversou com alguém que nunca andou de ônibus? Tenho certa relutância com essas pessoas. Andar de ônibus é uma experiência de fazer parte da cidade. E a cidade é rápida, cansada, ocupada, exauriente, quente. Estar no coletivo nos faz perceber que mesmo tão juntos ─ e acredite, BEM JUNTOS ─ estamos completamente distantes. Se você olhar bem, vai ver que mesmo quando estamos em uma situação de encurralamento, nós somos seres completamente sós. Nem passar pelas mesmas coisas, pelas mesmas situações tão cansativas, faz com que tenhamos empatia uns com os outros. Há sim uma perca da noção de humano, dessa coisa que deveria nos nivelar.
Na primeira aula do núcleo livre, a professora disse que a palavra solidão foi inventada na mesma época que o conceito de multidão. O homem experimentou essa famosa sensação de ter muitos ao seu redor e mesmo assim se sentir inevitavelmente só.
Bom, como pode ver, andar de ônibus produz em mim muitas reflexões. Sou dessas que senta no mesmo banco sempre e fica olhando para fora. Muitas das minhas reflexões mais profundas começou nesse grande pedaço de metal barulhento que vai parando e colhendo e ao mesmo tempo deixando gente também. Já beijei dentro do ônibus. Já chorei dentro do ônibus. Já dormi dentro do ônibus (muita humanidade). Já passei raiva. Já tive ótimas conversas e péssimas conversas lá dentro. Já fiz amizades dentro do ônibus. Inclusive amizades mudas, daquelas que você nunca troca uma palavra com a pessoa, mas pegar a mesma linha no mesmo horário que ela todo santo dia produz um senso de identificação.
E a vida vai seguindo. É bem triste morar em um país no qual você queira ter uma alternativa ao ônibus, mas é o que acontece e ao que estamos sujeitos. A lógica capitalista me empurra mais uma vez: demora demais chegar na faculdade por causa do ônibus. Todo dia eu tenho que entrar e sair dela em um horário diferente e a linha de ônibus não é bem compreensiva com a minha demanda. Então cá estou, tentando tirar essa carteira. Dizem que 3 dá sorte, então dessa vez vai (sim, vai sim). O meu número da sorte é 21, mas nesse caso...te dispenso, 21!
Até mais ver, marujos.
ps: troquei o nome do blog pois minha mãe me chama assim e achei a ideia interessante quando fui parar pra pensar.
ps2: um adeus pra você, setembro de 2016! ♥